O telefone que hoje toca me causa medo do que vou ouvir,
porque a vida a minha volta anda se equilibrando em uma corda fina e frouxa,
e sem uma rede antes de chegar o chão.
Por detrás daquela xícara de refresco de café,
do fundo da garrafa de cerveja,
e mesmo daquele meu riso exagerado que causa silêncio ao redor,
eu penso que hoje era um dia pra ser só seu.
Eu queria acordar do teu lado e pedir que me abraçasse,
e só me soltasse depois que o suor tornasse impossível continuar grudado.
Por detrás dessa minha segurança,
tem um medo indefinido que só tuas mãos saberiam afastar.
Entre um gole e outro não parei de pensar que aquele lugar não é totalmente bom porque você não está ali,
ouvindo-me falar sobre coisas que eu não te disse,
e que às vezes me dá medo não ter tido tempo de dizer.
Coisas que eu devia ter dito enquanto estava perdido na sua cama pequena,
saboreando cada segundo seu;
mas entende, eu estava perdido.
Aqueles meus silêncios,
em que eu coletava nuances suas,
que são minhas,
e que eu vou guardar pra nunca te dizer.
São essas sutilezas que hoje interromperam minha conversa,
entre um palito e um assunto que eu tive que pescar de volta ao centro da mesa.
Mesmo tendo aqueles olhares e sabendo da minha capacidade de seguir em frente,
preferi saborear de novo aqueles segundos que ficaram,
e de novo,
e de novo,
ao invés de inutilmente tentar esquecê-los.
Esquecer não entra no meu vocabulário de sentimentos explosivos,
e eu não faço questão de guardá-los.
Senti falta de ouvir sua voz me contando coisas que não conheço,
e dos teus olhos tristes que você esconde por detrás do seu sorriso sempre disposto a me entorpecer.
Hoje eu entendi que não sei nada desse tempo,
bem menos ainda do que supunha;
e preciso aprender a respeitar esses momentos,
mesmo amaldiçoando cada segundo que ele me priva de ter o que quero ter.
Eu ainda sou um menino mimado que não ter vergonha de espernear,
porque só eu sei o bem que me faz quando teu cheiro me chega aos sentidos.
Tanta coisa bonita que hoje eu vi,
tanto medo que hoje eu senti,
e eu queria te mostrar;
não por essas fotografias que eu insisto em bater,
nem nessas palavras que eu ainda sonho em escrever;
mas te segurar pela mão e dizer:
"olha!, ali tem um pouco de mim".
Chega desse sigilo estúpido.
Você não me deve,
nem eu posso te cobrar,
mas deixa guardado um espaço pequeno,
num canto escuro,
mesmo que não pegue sol e só guarde poeira;
guarda um canto pra tudo isso que foi,
eu e você,
e outro pra o que a gente pode ser.
Eu não faço idéia do que vai ser de amanhã,
mas vira essa página e dobra o canto do cabeçalho,
que é pra visitar de novo quando for o nosso tempo.
Me deixa construir essa esperança,
porque eu não sou de me contentar com pouco,
e eu ainda te quero mais.
Não se assuste;
esse sou eu.
Assustado comigo mesmo.
Um comentário:
Por aqui, sem susto, no entanto, ATENTO e confiante!
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