O frio dessa cidade anda ridiculamente desconfortável.
Acordei quase meio dia, com o celular tocando (de novo); eu já prevendo que meu pai tinha chegado e eu não tinha colocado nada em ordem.
Uma dor de cabeça irritante, numa mistura de ressaca com gripe.
Saltei pra fora da cama e desatei a, literalmente, amontoar tudo o que iria embora num canto. Em 4 viagens, estava tudo socado no carro, e eu com a certeza de que alguma coisa ficou para trás.
Sentamos numa lanchonete qualquer para um lanche qualquer; meu pai, cuidadosamente atencioso, mas a mesa quase sempre em silêncio, como sempre.
Nos despedimos, e tomei um remédio pra gripe mais forte, prescrito por meu pai, e tinha a intenção de dormir um bocado.
Obviamente, dormir tem sido algo meio deslocado no meu dia a dia.
Lembrei que tinha uma montanha de roupas pra buscar na lavanderia, e me apavorei ao perceber que a minha mala não seria grande o bastante.
Andei praticando o desapego de uma forma bastante agressiva esses dias. Me desfiz primeiro dos enfeites e bibelôs perdidos pela casa, em seguida das roupas. Hoje me deixaram sozinho a TV, o som, o DVD player e meu saco de pancadas (+ as coisinhas adjacentes como os livros, CD´s, DVD, louças, talheres, panelas...);
Considerando a hipótese de viajar com uma mala a mais.
Estava sentindo algo estranho com relação a isso tudo que está acontecendo nesse-momento-agora. Não consegui definir um polo, como alegria, ou tristeza, e muito me preocupa esse estado de torpor enfadonho; não gosto disso. Preferia estar empolgadíssimo ou em profunda depressão. Acabei por chorar um pouco, pra ver se botava isso pra fora. Ator que se preze, não perde uma cena, nem que seja entre quatro paredes. Memória emotiva para perdas materiais.
Arrumei um filme pra assistir e sai correndo de casa. Mesmo. Com a roupa que estava (e que, basicamente, era a mesma de ontem, já que dormi sem nem ao menos cogitar qualquer ação para retirá-las) só botei um casaco por cima e o primeiro tênis que achei o par em meio ao caos, e um boné pra esconder as serpentes da Medusa.
O frio dessa cidade anda ridiculamente desconfortável.
Vendo meu reflexo na vitrine, me senti um pintor de paredes. Taquei o foda-se.
Cheguei correndo na bilheteria, e me lembrei que havia prometido a mim mesmo que não voltaria mais naquele cinema pelo mesmo motivo de hoje: que mocinha mais mal criadinha na bilheteriazinha. Fez cara feia quando estendi uma nota de 100 reais para pagar o bilhete, insistiu se não tinha trocado, e quando ofereci o cartão como forma de pagamento, não me ouviu. Achei que não tinha ouvido. Repeti a afirmação, e ela continuou como se nada tivesse acontecido. Olhou pra nota dos dois lados, usou aquelas canetinhas pra conferir a marca d´agua, e entregou o bilhete para a pessoa que estava na frente da sua bilheteria.
Entrei azedo pra sessão, e a sala vazia. Pedi a papai do céu pra não me deixar sozinho ali, e ele me atendeu.
Chegaram 3 casais.
Perguntei a papai do céu se o humor dele sempre foi assim tão sutil.
Com 1 hora de filme, comecei a sentir uma saudade terrível.
Mas, falando do filme, “Sinédoque, Nova York”, eu na verdade prefiro não falar. Pirou meu cabeção de tantas formas que...
No caminho de volta, constatei o que fui desconfiando no trajeto contrário: meu visual trabalhador-braçal, por alguma razão, estava fazendo sucesso. Será que eu devo abandonar essa vida de glamour e assumir meu lado baixa renda?
Lembrei que minha casa já não é mais funcional, e me enfiei numa lanchonete que encontrei aberta. A porta foi fechada bem atrás de mim, e só um casalzinho terminava a sua refeição noturna.
Saudades. Queria você pra poder discutir o filme, e pra me acompanhar no assassinato da fome.
As mocinhas do lugar estavam todas agitadas. Uma gostou de mim; a outra não gostou do meu pedido, um pouco complicado de mais pro horário. Elas ou não sabem, ou se esqueceram de que pelo reflexo do vidro dá pra ver tudo o que acontece nas nossas costas.
Sai em passos largos, pois a chuva ameaçou voltar.
O frio dessa cidade anda ridiculamente desconfortável.
Na esquina, um rapaz se protegia de baixo de uma marquise, e ao me ver, soltou um sonoro: BUCETA. Tive o ímpeto de responder: “desculpe, não tenho.”, mas o cérebro estava muito ocupado processando todo aquele latrocínio alimentício, e não enviou a mensagem para a fala.
Entrei em casa e percebi como codifiquei minhas ações nesses 3 anos morando sozinho. A porta abriu mais do que devia, pois o teclado já não está mais atrás dela. Tive um impulso de ligar a TV, coisa que sempre faço pra matar o silêncio de quando chego. Abri a geladeira, me esquecendo que ela estava vazia.
Vim pra cá correndo pra ver se você estava.
Vou correndo ver amigos. Sinédoque, vazio.
Acordei quase meio dia, com o celular tocando (de novo); eu já prevendo que meu pai tinha chegado e eu não tinha colocado nada em ordem.
Uma dor de cabeça irritante, numa mistura de ressaca com gripe.
Saltei pra fora da cama e desatei a, literalmente, amontoar tudo o que iria embora num canto. Em 4 viagens, estava tudo socado no carro, e eu com a certeza de que alguma coisa ficou para trás.
Sentamos numa lanchonete qualquer para um lanche qualquer; meu pai, cuidadosamente atencioso, mas a mesa quase sempre em silêncio, como sempre.
Nos despedimos, e tomei um remédio pra gripe mais forte, prescrito por meu pai, e tinha a intenção de dormir um bocado.
Obviamente, dormir tem sido algo meio deslocado no meu dia a dia.
Lembrei que tinha uma montanha de roupas pra buscar na lavanderia, e me apavorei ao perceber que a minha mala não seria grande o bastante.
Andei praticando o desapego de uma forma bastante agressiva esses dias. Me desfiz primeiro dos enfeites e bibelôs perdidos pela casa, em seguida das roupas. Hoje me deixaram sozinho a TV, o som, o DVD player e meu saco de pancadas (+ as coisinhas adjacentes como os livros, CD´s, DVD, louças, talheres, panelas...);
Considerando a hipótese de viajar com uma mala a mais.
Estava sentindo algo estranho com relação a isso tudo que está acontecendo nesse-momento-agora. Não consegui definir um polo, como alegria, ou tristeza, e muito me preocupa esse estado de torpor enfadonho; não gosto disso. Preferia estar empolgadíssimo ou em profunda depressão. Acabei por chorar um pouco, pra ver se botava isso pra fora. Ator que se preze, não perde uma cena, nem que seja entre quatro paredes. Memória emotiva para perdas materiais.
Arrumei um filme pra assistir e sai correndo de casa. Mesmo. Com a roupa que estava (e que, basicamente, era a mesma de ontem, já que dormi sem nem ao menos cogitar qualquer ação para retirá-las) só botei um casaco por cima e o primeiro tênis que achei o par em meio ao caos, e um boné pra esconder as serpentes da Medusa.
O frio dessa cidade anda ridiculamente desconfortável.
Vendo meu reflexo na vitrine, me senti um pintor de paredes. Taquei o foda-se.
Cheguei correndo na bilheteria, e me lembrei que havia prometido a mim mesmo que não voltaria mais naquele cinema pelo mesmo motivo de hoje: que mocinha mais mal criadinha na bilheteriazinha. Fez cara feia quando estendi uma nota de 100 reais para pagar o bilhete, insistiu se não tinha trocado, e quando ofereci o cartão como forma de pagamento, não me ouviu. Achei que não tinha ouvido. Repeti a afirmação, e ela continuou como se nada tivesse acontecido. Olhou pra nota dos dois lados, usou aquelas canetinhas pra conferir a marca d´agua, e entregou o bilhete para a pessoa que estava na frente da sua bilheteria.
Entrei azedo pra sessão, e a sala vazia. Pedi a papai do céu pra não me deixar sozinho ali, e ele me atendeu.
Chegaram 3 casais.
Perguntei a papai do céu se o humor dele sempre foi assim tão sutil.
Com 1 hora de filme, comecei a sentir uma saudade terrível.
Mas, falando do filme, “Sinédoque, Nova York”, eu na verdade prefiro não falar. Pirou meu cabeção de tantas formas que...
No caminho de volta, constatei o que fui desconfiando no trajeto contrário: meu visual trabalhador-braçal, por alguma razão, estava fazendo sucesso. Será que eu devo abandonar essa vida de glamour e assumir meu lado baixa renda?
Lembrei que minha casa já não é mais funcional, e me enfiei numa lanchonete que encontrei aberta. A porta foi fechada bem atrás de mim, e só um casalzinho terminava a sua refeição noturna.
Saudades. Queria você pra poder discutir o filme, e pra me acompanhar no assassinato da fome.
As mocinhas do lugar estavam todas agitadas. Uma gostou de mim; a outra não gostou do meu pedido, um pouco complicado de mais pro horário. Elas ou não sabem, ou se esqueceram de que pelo reflexo do vidro dá pra ver tudo o que acontece nas nossas costas.
Sai em passos largos, pois a chuva ameaçou voltar.
O frio dessa cidade anda ridiculamente desconfortável.
Na esquina, um rapaz se protegia de baixo de uma marquise, e ao me ver, soltou um sonoro: BUCETA. Tive o ímpeto de responder: “desculpe, não tenho.”, mas o cérebro estava muito ocupado processando todo aquele latrocínio alimentício, e não enviou a mensagem para a fala.
Entrei em casa e percebi como codifiquei minhas ações nesses 3 anos morando sozinho. A porta abriu mais do que devia, pois o teclado já não está mais atrás dela. Tive um impulso de ligar a TV, coisa que sempre faço pra matar o silêncio de quando chego. Abri a geladeira, me esquecendo que ela estava vazia.
Vim pra cá correndo pra ver se você estava.
Vou correndo ver amigos. Sinédoque, vazio.
Um comentário:
Imagino como está a sua vida entre gripes, ressacas, casa vazia, saudade, início de temporada. Penso em você e a imagem que tenho é a de um nadador pronto para o salto na piscina. Aquele momento que antecede o salto. Vai, salta, mergulha fundo. Nos vemos no pódio! Beijos meus de tanta saudade.
Ah, O calor dessa cidade aqui anda ridiculamente desconfortável.
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