O sol na estrada parece mais forte do que em qualquer lugar do mundo. Enquanto meu pai guia, ouvindo sua mais nova aquisição sonora, um CD de uns paraguaios ou bolivianos que ele encontrou na rua, que parecem querer seguir uma linha Gotam Project de índios, eu (palavras censuradas). Desde ontem sem pregar o olho, e sem fazer menção de dormir. Estrada, estrada, mato, mato, mato, carros... tempo que não passa.
Em determinado momento, meu pai anuncia que precisa dormir. Hábito que ele mantém antes de eu pensar em ser gente. Meu pai dorme antes do "boa noite" do jornal, e acorda antes do galo. Resuldado: depois do almoço, precisa de uma sesta.
Ele encosta em um posto de beira de estrada, e eu pulo pra fora do carro carregando 2 livros e a carteira na mão, visto que minha calça não possui bolsos. A calça alias, anuncia minha chegada, uma vez que é composta de todas as cores de uma caixa de colorir, dessas que a gente comprava todo começo de ano quando era pequeno. Já na entrada, a mocinha do caixa me olha num misto de cuiosidade e encantamento. Peço um espetinho de frango, que acompanho com um pacote de Ruffles Cebola & Salsa e um Dell Vale de Pessego. Só de farra, sento bem de frente ao caixa da mocinha, e armo a cara mais blasé que consigo, devorando o pacote de batatas aos suspiros. Duas mordidas e estou empanturrado de gordura saturada até os cornos. Tanto se falou na tal gordura trans, e em como ela é muito ruim e blá blá blá... mas hoje em dia não encontro a danada em nenhum pacote do que quer que seja. Deve ter mutado pra uma forma de gordura ainda mais mortal e invisível.
Vou até o balcão e peço pimenta a uma outra mocinha muito solícita, que me oferece duas opções: condimentada ou malagueta? Escolho a última claro, pra espanto dela, que me pergunta: "tem certeza? Essa é muito forte..." Ela não vê minha calça por detras do balcão... abro "On the road" e leio uma meia dúzia de palavras, já que Florbela Espanca me parece um pouco palpavel de mais nesse momento.
Empurro o resto da comida com a pimenta, que posso garantir, nem fez coçegas, e chega meu pai chiando do telefone que o acordou. Arremato tudo com um picolé de limão, na esperança de ganhar uma maquina fotográfica. Me dirigo ao caixa, e a mocinha do começo da história arruma os cabelos. Pego um pacote daquelas melecas para mastigar feitas em laboratório, que tem uma cara de Willy Wonka, e textura de peixe cru. Meu desapego alimentar custou quase 20 reais, não para minha surpresa, mas claro, para meu desgosto. Saco meu sorriso mais simpático pra mocinha, junto com um "obrigado", o qual ela devolve com um "boa viagem".
Corro para o carro, rapidinho busco meu case de CD´s, e trato de botar Simon & Gartfunkel pra trabalhar. Meu pai se surpreende: "desde quando você escuta isso?"
Desde sempre pai. É que nós nunca paramos pra conversar...
E a estrada segue passando. Vou me divertindo com as caretas dele ao provar a meleca de mastigar produzida em laboratório. "É bom pra acordar... azedo!", diz ele.
Um comentário:
"Ruffles Cebola & Salsa e um Dell Vale de Pessego"
Amo muito tudo isso.
Lu
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