quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Anything you heart desires...

Eu sou um preconceituoso, no duro. Basta ler ou ouvir "filme de Woody Allen" que eu tenho um soluço. Nunca entendi toda essa euforia ao redor da obra dele, apesar de ter assistido menos da metade de sua filmografia, provavelmente os mais relevantes e alguns dos esquecíveis. Mas penso que, olhando para o todo, sua obra é bastante... inconsistente (medo de represália, EXPLICO!) no sentido de que para cada "Desconstruindo Harry" existe um "Trapaceiros", ou para cada "Match Point" um "Dirigindo no Escuro".

Assisti ao seu lançamento anual, "Você Vai Conhecer o Homem Dos Seus Sonhos", que entra para a lista dos piores do diretor. Contando uma história que me dá preguiça de elaborar a sinopse, o filme parece ser um caso de apoio financeiro prestes a vencer, e o diretor sacando o primeiro projeto que lhe veio a cabeça. Sem demonstrar qualquer lampejo de criatividade, o diretor resume sua obra a repetir os longos planos-sequencia que são sua marca, mas aqui servindo apenas para revelar a fragilidade do roteiro colocando os atores em situações inverossímeis e "duras" devido aos diálogos mal resolvidos. Contando com uma galeria de personagens mal desenvolvidos, sofrem Naomi Watts com uma figura unilateral e Anthony Hopkings com o tipo mais clichê impossível, do senhor que se separa, casa com uma jovem e se arrepende. A jovem em questão, interpretada por Lucy Punch (Lucy Punch?) é a única personagem mais interessante, mas que a atriz se contenta em ser a loira-burra-alivio-cômico, disperdiçando o que talvez pudesse ser a coisa mais interessante do filme. Surgindo como a mais-nova-musa-inspiradora-da-vez, Freida Pinto chega a permanecer em tela absolutamente inespressiva enquanto um diálogo qualquer é disparado, revelando a também já conhecida "papa-anjice" do diretor, que é capaz de sacrificar o ritmo da cena em prol de uma bela mulher. E o que dizer do narrador, também um artifício costumeiro, que aqui aparece apenas quando precisa justificar ou resolver alguma coisa, como por exemplo nos dizer que a personagem se apaixonou pelo vizinho mal-sucedido e tarado? Alias, a mulher dizer que está gostando do flerte do vizinho me deixou na dúvida: ou ela é uma esquisitamaconheirameioburra, ou essas são as cantadas que o Woody Allen usa e julga serem geniais? Sim, porque o mal gosto da personagem de Josh Brolin beira o absurdo, e ser obrigado a aceitar que a mulher se sentiu lisonjeada com as cantadas só me deixou com raiva.

Sem se encontrar como drama ou comédia, longe de ser um estudo de caso ou uma alto-análise, quanto mais o filme passava, mais eu me perguntava a razão daquilo tudo. Se o diretor julga fechar a história citando Shakespeare no início e no fim, infelizmente o seu filme carece de som e fúria, e no final acaba significando "nada".

Nenhum comentário: