quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

A ordem das árvores não altera o passarinho...

Tentei mudar do Blogspot para o Wordpress (já que aqui não se posta mais figuras e videos...), mas meu computador segue fazendo a fina e não posta nada, apesar de o dominio estar lá, cheio de nada. É, porque até para ser "nada" online é preciso "muito"... pois então sigo por aqui até enquanto meu notebook mandar.

Assisti "A Rede Social", um dos filmes que mais aguardei esse ano. Eu provavelmente fiz parte de uma microparcela de gente que não tem Facebook e estava naquela sala de cinema, mas tinha certeza que a funcionalidade do site em sí pouco importava para o entedimento. David Fincher é o meu sonho de criança materializado em forma de diretor. Ele é responsável por pelo menos 4 filmes que me são inesquecíveis (Se7en, Clube da Luta, Zodíaco, Quarto do Pânico) e agora mais esse, que sim, entregam a minha fatia geek que eu providencialmente nunca desenvolvi na adolescência na tentativa de me "adequar" melhor ao mundo da escola onde os nerd eram um bando a ser evitado (e eu sendo descendente de japonêses já me deixava razoavelmente à margem). Entendam, eu sou um japonês que entende patavinas de computador. Isso é quase uma aberração. Eu vi o computador caseiro nascer. Fui um dos últimos a tê-lo (visto que meu pai é avesso a neessidades materiais, e chegava a usar o telefone do porteiro na época que o telefone entrou nas residências), assim como fui o último a ter um video-game (foi necessário uma campanha para consegui-lo), o último a ser escolhido na aula de educação física gaaaahhh! Eu tinha tudo para ser um geek, mas lutei contra o lado negro da força. Hoje em dia eu tenho uma relação bastante confusa com essa tecnologia. Apesar de abrir o Orkut todo dia, eu adoraria não depender dele para ter contato com os amigos que estão longe. Até porque o contato que ele me proporciona é ver a pequena foto do amigo ali no canto, mas eu dificilmente vou clicar nela e mandar um scrap dizendo "Olá, como vai a vida?". As vezes me ataca uma inspiração e eu saio escrevendo para todos que sinto falta, mas ouvir que "está tudo bem, estou trabalhando, estou namorando, estou feliz" pouco me diz sobre a verdadeira pessoa. Por ali não dá pra ter o "timming" certo, as piadas não tem canal, a vida sai resumida, sei lá...

Nesse sentido, o filme de David Fincher (de 48 anos) surpreende por ser bem mais econômico em suas estripulias visuais do que os antecessores, mais ainda assim é provavelmente o que melhor dialoga com essa tal geração Z (ou geração Facebook?). O seu protagonista é um sujeito de uma linha (linha?) de raciocínio irritante e incapaz de compreender os sentimentos alheios, que fica claro já na cena de abertura que dita o tom de toda a obra. Os dialogos são tão absolutamente ligeiros (no sentido de rápidos mesmo, não de dispensáveis; explicação para os Zuckerbergs da vida...) e deliciosos que ao mesmo tempo em que as vezes me levavam a exaustão me obrigavam a ficar absolutamente ligado na tela sob penalidade de perder algum. Esse pulso atropelado condiz com a própria vida online, bombardeada com tantas informações que as vezes nos atropelam. Quer dizer, me atropela; as vezes me cansa. Eu que fui criado brincando de carrinho de rolimâ, as vezes não tenho paciência nem para celular. Para a agonia dos que me cercam, e que em sua maioria são antecessores ao aparelhinho.

O filme provavelmente toma diversas licensas poéticas. O próprio Mark disse ter achado engraçado ver a história ser justificada pela ex-namorada, uma vez que o Mark real passou todo o periodo da faculdade namorando. Mas sem nunca pretender ser uma cinebiografia, o filme trata de tornar a história o mais interessante possível, e é nesse sentido que o roteiro Aaron Sorkin é brilhante, num desses eventos cinematográficos que me emocionam. A figura de Mark Zuckerberg não se explica; mesmo com a metáfora à Rosebud, simplória e coerente, é pouco para explicar ou ousar deficfrar a persona. Mesmo num momento divertido, com a criação do "Status de relacionamento", sabemos que aquilo não é o que ele se importa, mas sim o que ele percebe ser importante para os outros. A relação com dinheiro, idem, nunca é afirmativa. Se em um instante ele distribui de graça um programa que a Microsoft estava disposta a pagar, por outro ele joga na cara da advogada que com o dinheiro que possui ele poderia comprar Harvard e fazer de uma das suas casas a sua sala de ping pong. E porque a presença do melhor amigo é tão importante, já que ele não parece ser dos executivos mais brilhantes e tampouco apegado a pessoas? Seria apenas o elo sensível, o lado com percepções mais "humanas", coisa que ele parece não compreender? Porém, essa mesma figura se rende à chegada de Sean Parker, criador do Napster e figura hype que logo seduz Mark em seu mundo de festas e ostentabilidade.

Outra caracteristica dos trabalhos de Fincher que me impressiona é a qualidade do diretor em arrancar atuações inspiradas de seus atores. Mesmo sendo um diretor extremamente racional (seu filme mais fraco na minha opinião, "O Curioso Caso de Benjamin Button", é o mais melodramatico) os atores sempre encontram espaço para crescer, numa clara confiança e entrega ao trabalho. No caso deste, até Justin Timberlake surge intenso, mesmo que interpretando aquela mesma figura já bem conhecida que trouxe o "sexy" de volta.

Entrando fácil na lista dos melhores filmes de 2010, se não da década, o filme talvez revele mais sobre a sociedade hoje do que eu tenha paciência para analisar. O filme se basta como filme.

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