terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Jai Ho...

Eu sou fã de Danny Boyle. De diretor de filmes pequenos e cultuados na década de 90 até uma transição para os grandes orçamentos sem com isso perder a mão, sua filmografia não é infalível, mas ainda assim é uma figura que eu recomendaria em uma sessão no estilo "filmes de".

Dito isso, só hoje assisti "Quem Quer Ser Um Milionário", justamente o filme que lhe rendeu um Oscar, na Globo. Não sei bem a razão disso, mas acredito que tenho ojeriza por coisas que geram muito burburinho. Tipo "Tropa de Elite" que até hoje eu evito como se fosse um vampiro fugindo do macarrão alho e óleo. No caso do filme brasileiro, ainda calha de ser um... é... brasileiro, que eu tenho um tremendo preconceito.

Pois no caso de "Quem Quer Ser...", foi outra série de fatores: o trailer, que já havia me entregado que o menino ganhava o prêmio final e a estética da pobreza glamurizada, que sempre me incomodou nas já evitadas produções brasucas. Não, não acho que devemos fechar os olhos para isso; é óbvio que a pobreza existe e mora ao lado (literalmente, no meu caso). Mas sim, sou completamente contra de retratar isso como uma justificativa para seus anti-heróis ou para tornar a trajetória de seu protagonista mais "gratificante". Não, é claro que a pobreza não esta proibída na minha fimacoteca, mas o grade problema é deixar de retratá-la como ela é, com toda crueldade ou sem a menor preocupação com o protesto intrínseco que ali existe; ao invés disso, para pintá-la com cores fortes e fotografia impecável, editá-la como um video clip e usá-la como escapismo. Também não sou tão naive para achar que ali só existe tristeza, mas é difícil assumir que sou capaz de olhar para tudo aquilo e achar emocionante e divertido.

Sobre qual dos filmes estou falando mesmo?

Tanto no filme indiano (?) quanto nos vários exemplares brasileiros (Cidade de Deus, Carandiru, Ônibus 147, etc...), existe um vigor cênico que me amarra impiedosamente. São filmes excelentes e que fazem "valer o ingresso", mas eu me pergunto até que ponto é justo que eu esteja me divertindo ou "sendo entretido" por uma "realidade" que não deveria ser divertida. Papo chato, é só um filme, não quer, não assita... eu sei, eu sei.

Pois então vou tentar me prender aos aspectos menos sociais do filme. Que as crianças do filme foram crescendo e sendo substituídas por atores cada vez piores, isso é fato, especialmente o protagonista. Seu intérprete mirim é excelente, perde simpatia no segundo, e na adolescência é a canastrice em pessoa a ponto de eu desejar que ele errasse a pergunta final. Tudo fica ainda pior ao colocarem uma atriz absurdamente linda (Freida Pinto, daquele famigerado filme do Woody Allen) e que me fez pensar que ela é muito areia pro caminhãozinho dele. Claro, só sendo ridiculamente linda para justificar o fato de aquele menino NUNCA esquece-la, e passar toda a trama correndo atrás de seu amor impossível, mas a verdade é que a fábula que o filme propõe nunca me convence. Talvez por ser calcado demais na realidade em que ele se insere, ou por eu considerar uma verdadeira extrapolação do herói-supera-obstáculos colocar uma história tão romântica em um ambiente tão hostil. Mas acredito que se o mote não fosse um programa real, talvez a história toda poderia ser apenas um grande sonho do garoto, e seu prêmio a mulher amada. Mas não é. E o que dizer do roteiro que constrói os acontecimentos que o levaram as respostas cronologicamente as perguntas do programa? E os diálogos cafonas?

Mas como tudo o que Danny Boyle põe a mão nunca é ruim, o filme conta com tomadas e transições sempre criativas do diretor, além da edição esperta. Porém, em um ano que teve "Wall-E", "Sinédoque, NY" e "Milk", fica difícil engolir a estatueta a um filme tão irregular. Mas como tudo é uma questão de ponto de vista, pelo menos no final rola uma dancinha a moda Bollywood. Dancinhas no final sempre marcam uns pontinhos a mais.

Mas que venha "127 Hours".

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