segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

No he can´t read my...

Feliz 2011, poucos e invisíveis leitores!

Esse fim de semana assisti a "Cachè", do diretor Michael Haneke que cada vez mais chama minha atenção pela sua obra. A algum tempo assisti "Violência Gratuita" , a versão de 2007 e não a de 1998, que curiosamente é uma versão quadro-a-quadro que o próprio diretor propôs, levando a uma discussão interessante mas que não vem ao caso, ou esse post vai ficar gigantesco.

Porque falar de "Caché" não vai ser fácil. E se você não assistiu, não recomendo que leia e vá encarar o filme.

O filme conta a história de um apresentador de TV que, junto com a esposa, começa a receber fitas cassetes contendo filmagens da frente de sua casa e desenhos estranhos e ameaçadores. O que me chamou atenção desde o principio foram as longas tomadas, muitas vezes repetitivas ou praticamente estáticas, mas que undubitávelmente me "obrigavam" a pensar sobre o que estava acontecendo, e formular minhas teorias a respeito da trama, como se estivesse preso àquele mundo. Claro que é também um retrato preciso da impotência das personagens perante ao fato. Como proceder perante uma ameaça tão evasiva, se é que se trata de uma ameaça. E a medida que a história vai evoluindo, percebemos que existem muitos esqueletos dentro do armário daquela familia. Mas ao mesmo tempo, o diretor evita mastigar cada ponto, cada razão, cada atitude, o que me deixou absolutamente incomodado, como se não pudesse compartilhar daquele drama a qual fora violentamente arremessado em seu redemoinho. Por exemplo, a relação do casal com o filho sempre aparenta uma certa frieza, e quando a mãe é acusada de estar tendo um caso com seu editor, o filho reage com uma violência que não cessa mesmo a mãe jurando não ser verdade. O que foi apresentado à esse menino para que ele tivesse tanta certeza? Outra fita? O mesmo ocorre com o pai, que mente para a esposa mesmo quando sua justificativa não soa plausível. É então que constatei que nunca estamos sendo apresentados a uma verdade absoluta. Assim como o personagem em determinada cena aparece em uma ilha de edição omitindo certos fatos do que estava sendo dito, nós também somos uma vítima da nossa própria ameaça: a verdade que nós é apresentada é aquela que ele (o diretor, figura onipresente) escolher mostrar. Sim, porque talvez somos nós que estamos ameaçando aquelas figuras, olhos estáticos do lado de fora da casa, vendo apenas aquilo que o instante nos permite. Num exaustivo exercício de metalinguagem, a certa altura do filme já não sabemos mais o que é "realidade" e o que é videotape. O diretor cuidadosamente usa e abusa da mesma câmera parada e enquadramento distante, causando a impressão de que somos nós os detentores da câmera que filma a vida daquelas pessoas. Nenhuma cena parece existir a toa, como por exemplo a conversa trivial à mesa com os amigos, e a piada que termina num susto, seguido da dúvida de uma das ouvintes: "e ai, é verdade ou não?". O filme, a grosso modo, parece se encaixar nessa estrutura, um grande susto, e então o questionamento. Outra cena que me fez pensar a respeito da verdade velada no filme é o comentário de um entrevistado a respeito da obra de Rimbaud, que era controlado pela esposa Isabelle. Se julgasse a obra inapropriada, ela simplesmente botava fogo no manuscrito. Seria essa uma sugestão do diretor? Somos nós o autor a respeito do que estamos entendendo da história, para então a persona do diretor escolher o que devemos crer ou não? Ou vice versa, são eles os autores da própria história, e nós intepretando o que julgamos ser certo? Ao final, em uma cena onde uma grande revelação pode até passar despercebida, é então que percebemos que ainda não tinhamos pensado em tudo. Ao contrário, vamos seguir pensando se era isso mesmo.

E isso é pouco perto do todo. Me falta repertório para discutir o lado politico da obra, e mesmo um entendimento de toda a linguagem utilizada pelo diretor. Vou seguir caçando os outros filmes dele. :D

E esse fim de semana que estréia "Black Swan" do Aronofsky, "Além da Vida" do Eastwood e "Incontrolável" do Tony Scott? Quero ver todos ao mesmo tempo! Hihi...

Um comentário:

Ge disse...

Você só esqueceu de dizer que são leitores fiéis...hahhah...
Que 2011 seja incrível e lhe traga muitas alegrias...bjus.