sexta-feira, 11 de março de 2011

Catfish

Ontem assisti "Catfish", um documentário que causou burburinho em Sundance esse ano. Não à toa, a pelicula realmente surpreende não só pela conclusão da história mas também pela "sorte" dos realizadores de serem diretores com uma câmera prontos para registrá-la.

Mas se você não viu o filme, recomendo que (como a própria campanha de divulgação sabiamente o faz) pare de ler agora, não procure nada sobre ele e vá assistir "às cegas".

O filme já tinha ficado na minha (muito) pequena gaveta de memória à tempos, quando vi o trailer e parei no meio, obedecendo a jogada de marketing muito espertinha de não buscar informações sobre o filme antes de vê-lo. Mas como à época eu ainda não dominava a arte e as delícias do torrent (ups...), foi só agora que num lapso lembrei dele e fui correndo baixar.

A jogada de marketing é válida. A viagem proporcionada pelo filme é no mínimo inquietante. Bastam 5 minutos de filme para que percebamos que algo vai dar errado para aquele menino que se envolveu com uma lindeza pelo Facebook. Porém a edição ligeira nos prende e vai nos aguçando para a grande decepção que aquele rapaz vai sentir em breve. Mas a medida que o filme avança, não demora a começarmos a esperar pelo pior. Ora, pelo menos a minha geração que se CAGOU com "A Bruxa de Blair" já está logo imaginando algo atacando o cameraman, ou no mínimo uma correria destrambelhada como em "REC". Os anos trataram de criar um certo "trauma" por esses mockumentaries loucos para nos fazer crer que o impossível existe. Até o Aronofsky ousou isso com o belíssimo "Cisne Negro", quando fica a sensação de que Natalie Portman vai disparar um grito na nossa direção mandando-nos sair do quarto dela. Mas no caso deste, o realismo vai cada vez se aproximando mais do... bem... real... ao invés de ir inserindo elementos que nos preparam para a aceitação daquilo que ainda não acreditamos.

O próprio Nev (o "ator", nesse caso chamado de "Subject") é sempre a vontade demais para uma "pessoa comum". Seu naturalismo desafetado as vezes soa muito insuspeito para alguém que tecnicamente não estudou para isso. Mas como é seu irmão quem está por trás da câmera, logo percebemos que é possível que aquilo seja mesmo verdade.

O terceiro ato chega a ensaiar um ataque psicopata, mas eis que, ao invés do esporro, um silêncio inquietante se planta do lado de cá da tela ao começarmos a esboçar o que é que estamos prestes a ver. Fugindo às espectativas, abandonamos o Subject quase que totalmente e começamos a ser invadidos por palavras e imagens de um dia comum de uma vida nada comum. Subitamente a reviravolta se estabelece: é de verdade! Sabiamente o filme não tendencia ao julgamento e nem a recriminação; resta àqueles meninos investigar aquilo que eles mesmo estão surpresos de ver, num misto de curiosidade adolescente mórbida e maturidade. É invasivo e quase cruel, mas se pararmos para pensar, todo o dia somos bombardeados por imagens que tampouco nos dizem respeito. O que sobra é uma leitura acidental do que é o mundo hoje. Ou ao menos uma pequena e triste parte dele, que anda doente e procurando subterfúgios desesperadamente.

Fiquei pensando muito tempo sobre se o filme é realmente um bom documentário ou apenas um golpe de sorte. Mas acredito que independende da casualidade da coisa, a execução foi bem feita e cuidadosa na medida do possível. É um bom exemplo para qualquer cineasta de investigar o mais simples e quem sabe descobrir o incrível. Com certeza vou levar esse filme por um bom tempo.

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