terça-feira, 29 de março de 2011

Faz de conta que ainda é cedo...

Eu nunca gostei de abordar esse tipo de assunto. Fica parecendo que estou "me achando" ao me colocar à par do que está acontecendo com um olhar crítico e tudo. Mas o que diabos a internet anda fazendo com a cabeça das pessoas?

Ontem o CQC (obviamente querendo causar burburinho) fez uma matéria com Jair Bolsonaro onde o deputado fez tudo aquilo que se espera dele: disparou ofensas para todos os lados e defendeu a ditadura com uma convicção que só assistindo pra ver. Resultado? Muita gritaria no twitter, "indignação", "preconceito", "racismo", todos em caixa alta. Claro, o twitter tem essa função de servir como uma válvula de escape para qualquer coisa, mas o grande problema é que parece que ele se tornou um bom consolo: já fiz minha parte, já reclamei, o mundo já sabe da minha opinião. Porque sabemos que das 10.000 pessoas altamente indignadas, é bem provável que só uma vá tomar alguma atitude que realmente sirva para alguma coisa. E olhe lá. Por que para cada indignado existe um que achou certíssimo, e os dois vão se ocupar com a gritaria online, um com o outro, e quando se cansarem mudam a hashtag. Basta ler os comentários embaixo de cada matéria para ver que muita gente está disposta a combater aquilo que as revolta, mas muita gente está concordando, enfatizando e defendendo os comentários protegidos pelo anonimato de apelidos e provocações fantasmas.

* "BOLSONARO PRESIDENTE!!! FORA OS GAYS....COMUNISTAS....BANDIDO BOM É BANDIDO MORTO....TORTURA PARA OS SUBVERSIVOS.... E QUE ELE ACHE UMA ESLAVA E TENHA UM FILHO PARA SER NOSSO NOVO FUHRER...." *


Eu fico me perguntando se vale a pena se desgastar por aqui.

A revista Caras saiu com uma noticia dizendo que, por ordem judicial, sairá com uma tarja preta cobrindo o nome de uma pessoa citada nas declarações de Cibele Dorsa minutos antes de se suicidar. Mais gritaria, mais ofensas. Gente que nem sabe o que está acontecendo, gente diretamente envolvida, desespero em ter a sua palavra lida, em ter seu nome protegido.

* "PAÍS INJUSTO,,, ONDE OS RICOS TENTA CALAR A BOCA DAS PESSOAS.. MAS A BOCA DE DEUS ELES NAO VAO CALAR... QUERO QUE MORRA NO INFERNO.." *

O caso Maria Bethânia idem. Sanatório online. Perdeu-se a oportunidade de rever questões válidas para se questionar a validade do projeto, o talento da artista, o gosto popular.

Surgiu por esses tempos um tipo cada vez mais comum: o caça-views. Para cada polêmica, alguém que sai correndo para fazer um video engraçadinho e receber os comentários elogiosos, as criticas; ser o alvo da vez. Ou alguém duvida que os Rafinhas Bastos da vida (ele considerado a pessoa mais influente do Twitter! Caso a parte...) tem uma piada na ponta da língua para cada um desses tópicos?

* "@astridfontenell Sei que vc gosta mto da minha cidade Salvador, da parabéns pra ela e nos ajuda com a TAG #Salvador462anos beijos e grata!" *

Tem se criado uma cultura do desespero em ser famoso, nem que essa fama não traga nada mais do que atenção. Se antes o "popular" era só o bonitão, o esportista, o engraçado da escola, hoje em dia qualquer um percebeu que tem a oportunidade (ou ao menos a impressão) de ser o centro ou de corrigir o erro de ter sido um "ninguém". Quem não conhece aquela pessoa que não perde a oportunidade de alimentar a sua rede social com um comentário ou um video só para ter uma avalanche de respostas? "Fui ouvido!", quase consigo escutar quando mais de 10 pessoas "curtiram", participaram do seu debate, deram RT, encaminharam... nada como colher os louros de ter sido o responsável por disseminar uma opinião ou ter causado um burburinho.

Que louros? Comentários elogiosos, mais alguns odiosos? É fácil lidar com a rejeição hoje em dia, pois logo em seguida segue um comentário negando tudo isso. Fico me perguntando que sentido tem isso tudo a não ser se ocupar. Sim, porque é fácil ficar online o dia inteiro "buscando informações", sabendo o que está acontecendo no mundo, pescando aquela piada da hora que vai ser o assunto da vez nas rodas de amigos. O que me pergunto é o que andamos fazendo com toda essa informação ou quantas delas realmente servem pra alguma coisa. "Falem mal, mas falem de mim" nunca fez tanto sentido nesses tempos onde quem cometeu suicídio foi o silêncio. Bem vindos a democratização da internet e seu direito de palavra.

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