quinta-feira, 21 de abril de 2011

They'd write it on my grave...

Em 1996 eu botava os pés dentro de uma locadora perto da minha casa, em Maringá. Era um lugar ainda muito cheio de informação para alguém que a pouco tempo só havia entrado lá para ver o badalado (ao menos no bairro) "Faces da Morte". Tem cenas de mortes reais, cara! Ainda impulsionado por esse instinto sádico-curioso-adormecido, e pelas lembranças de noites de medo após assistir "Sexta Feira 13 - Parte sei-lá-quanto", fui direto para a sessão de terror, que ficava de costas para a sessão pornô e dava pra ver algumas partes retalhadas de corpos e genitálias por entre as fitas. Nessa época eu nem sonhava em entrar na internet, só pra constar. Entre alguns filmes antigos (It, O Iluminado e o Bebe de Rosemary estavam por ali), eu logo saquei uma capa moderninha, a estampa "lançamento" em meio a um bocado de coisa da década passada. Levei a VHS de "Pânico" pra casa e esperei todo mundo dormir para poder assistir, já que filmes de terror não interessava a mais ninguém. Foi o start de uma paixão avassaladora pela magia do cinema. Magia mesmo, sem medo de ser cafona ou piegas. Passei a frequentar a locadora avidamente, ao ponto do dono lamentar eu não ter ganhado o DVD player que estava sendo sorteado no natal. Comecei a ver de tudo(lembro até hoje quando vi A trilogia das cores), e assisti em torno de 80 % da locadora (menos a sessão religiosa por questão de gosto e a sessão pornô por questões familiares).

Não preciso dizer o quanto estava ansioso pra assistir ao quarto episódio da série né?

Felizmente, "Pânico 4" está bem mais para o inicio da série do que para a tenebrosa terceira parte da franquia, apesar de ficar longe do peso que a segunda parte conferia. A abertura já indica o que está por vir: um jogo de metalinguagem ágil e divertido, mostrando que apesar de serem de uma geração que curtiu Evil Dead e Colheita Maldita, o escritor Kevin Williamson e o diretor Wes Craven parecem bem antenados com o seu público, entregando um filme que trata do terror no novo século com desenvoltura. Infelizmente, falta cuidado com as três figuras remanescentes da série, que passam num rasante pela tela. Dewey, policial atrapalhado (ainda não sei se atrapalhado é o personagem ou o ator) de David Arquette agora é xerife, e seu casamento com a ex-reporter Gale Wheaters anda em crise, mas isso não importa para trama, bem como não importa o fato de ela não ter inspiração para escrever seu livro e nem de ele não mancar mais. As trapalhadas cômicas do policial agora são apenas incompetências, enquanto a esperteza da reporter que era tão revigorante na série aqui é deixado de lado. Sua atitude de se unir ao clube de cinema para entender as regras da nova sequência é boba e descartável.



(SPOILER)

Eu juro que eu esperava no final que a Gale tivesse fingido a gravidade da sua facada, e espalhado câmeras pela casa flagrando toda a tentativa da assassina em forjar a cena do crime. Seria coerente, não?

(FIM DO SPOILER)


E o que dizer da protagonista, a amaldiçoadísi-si-si-ssima Sidney Prescot? Após uma sequência de mortes ao seu redor ao longo de anos e ser elevada a heroína do novo século, que não se limita a gritar, mas esmurra o assassino e até ganha cena de teatro grego com direito a coro e tudo, ela agora apenas passa por todo o conflito com descuido por parte do roteiro, sem esboçar qualquer sinal da densidade adquirida ao longo dos anos. O roteiro se preocupa mais em ocupar a tela com os bonitinhos da vez (a sobrinha da Julia Roberts, o irmão do Mackauly Culkin, a ex-heroes, etc) na tentativa de fazer a platéia mais nova se interessar pela trama, que disfere críticas a todos os filmes de terror (TODOS, juro, tem uma cena ótima) e encara a nova onda de assassinatos com a calmaria de quem já teve a escola atacada por adolescentes armados. Uma pena, já que, fora a bonitinha-rouquinha da Hayden Panetone-autotune são todos bastante "mornos".

Ainda que enfraquecido aqui e ali, se esquecendo de assustar pelo meio do caminho, o filme ganha no terceiro ato, quando esquece a pastalhada de dialógos do assassino se justificando, e estendendo a trama para depois da revelação. Utilizando uma discussão (ainda que rasteira) para localizar a nova geração nos motivos de seus assassinatos, a justificativa é bastante plausível e até palpável, apesar de continuar achando a direção por vezes desleixadas nas coreografias de cena. E é sempre divertido ver um filme que sabe rir dos seus próprios absurdos. Que venha o quinto!

Enquanto isso, na sala ao lado, assisti a "Rio", em 3D, e sai tonto de tanta pirueta. Bonitinho. Só não entendi porque tanta reclamação por conta da critica brasileira em relação ao filme mostrar todos os pontos turisticos como se a cidade fosse só aquilo, quando boa parte da história se passa NA FAVELA. A vida segue.

O peso que uma animação e um filme de terror tem no blog da pessoa diz bastante sobre ela não? Ao menos na geração Facebook que se define por filmes, livros e músicas, diz sim.

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