terça-feira, 28 de julho de 2009

O céu de Ícaro tem mais poesia que o de Galileu...

As 8 da manhã, acordei com o celular despertando. Esqueci de por um toque suave, e acordei com uma batida infernal que por pouco não arrebentou meus tímpanos.

Desliguei.

As 9 da manhã, acordei com o mesmo celular, e a mesma música infernal.

Desliguei.

As 11 da manhã, acordei mais uma vez com o celular, mas a música denunciava outra coisa: era algum familiar me procurando.

Com a voz embargada (de sono, de gripe, sei lá...), atendi meu pai, e combinei com ele uma visita na quinta feira, para ele buscar todas as coisas das quais não quero deixar pra trás.

Rolei para fora do colchão, ainda com resquícios do calafrio que me perseguiu noite adentro. No espelho, além dos fiapos de barba que deveriam ter sido aparados à 2 dias, pedaços de pele se soltando nas regiões secas do meu rosto, causado pelo aquecimento facial noturno típico daqueles que mesclam picos de frio e calor quando se tem febre.

MEMO: essa cabeleira desgovernada não pode continuar habitando o topo da minha cabeça.

Preparei um desjejum bem cara de pau, enquanto lia as noticias matinais.

Mundo bizarro.

Respirei fundo, e mirei uma caixa de papelão onde, um dia, tirei meu fogão de dentro. Alí no cantinho, sob a arara de roupas, e coberta com uma manta com temas orientais, já tinha me esquecido dela. Arrastei-a para o meio do quarto, e abri sua tampa lateral rapidamente; quase instantaneamente, pulei para trás, sabendo o que poderia viver ali.

Traças, aranhas, bicho-papão e memórias-não-tão-antigas.

Tênis velhos, material de faculdade, figurinos.

Tratado de Antropologia Teatral. Elementos da dança. Tartufo.

Nunca fui Romeu; já fui Jasão.

Malandro semi-oriental é integrante da Yakusa?

Abri uma caixa ou um worm hole?

Juntei uma montanha de coisas para jogar fora, e um montinho de coisas para se guardar por mais alguns anos, e daqui a alguns anos, jogar fora.

Guardei Eugenio Barba, mas Eurípides será sumariamente reciclado.

Quanta folha rabiscada com sentimentos quase infantis. Eu já fui aquilo um dia; um sentimento visceral nas últimas folhas do caderno. Era um aluno sabe lá deux de onde. Matéria mesmo, só a matéria-celulose. Sentimentos, sentimentos, sentimentos. Como foi que eu me formei mesmo?

Quase tudo vai fora; quase nada me segura por mais de uma breve passada de olhos. Já fui.

Vendo toda essa zona que criei, por um instante não sei muito bem o que fazer.

Cansei de toda essa prosa. Daqui pra frente, quero poesia.

2 comentários:

Anônimo disse...

Li cada palavra sua atentamente, mas parei no título... "O céu de ìcaro tem mais estrelas do que o de Galileu"... Você não tem noção de como essa frase é importante pra mim...

Bokapiu disse...

Já passei tanto por isso, de deixar lugares onde habitei, sair sem olhar para trás, mirando o futuro. É sempre uma iniciação, um eterno recomeçar. Que seja assim...