terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Deux ex machina...

Carnaval em Salvador me lembrou o filme "Hotel Ruanda", filme de 2004 que aborda o conflito entre duas etnias africanas quase idênticas, mas que se odeiam mortalmente.


Aí você me pergunta: "surtou moleque? O que D-I-A-B-O-S aqueles filme violento de história triste tem a ver com a maior festa do mundo?"


Realmente, quase nada, mas foi o que me veio a cabeça, presenciando aquela zona caótica.


No primeiro dia, sai no bloco "Os Mascarados", com uma calça desenhada de fitinhas do bonfim e todas as cores da bandeira LGBT. Fechativo, como dizem por aqui. Pelas ruas, muita, mas muita gente. Não, vocês não estão me entendendo: muita gente. Margareth Menezes puxava uma múltidão, e cada vez que ela cantava "Maimbê Danda" (coisa que ela fez umas 5 vezes) eu tinha a impressão que a terra ia sair do curso. Ou você pula, ou você pula. Até morto pula. Em determinada altura tive medo, de verdade. Ao tentar sair do trio para a calçada, uma turba quase me carregou pra longe. Mas minhas habilidades ninjas me mantiveram de pé.


Outro dia vi de longe Daniela Mercury, com sua técnica perfeita, carregando mais gente ainda. Nem cogitei chegar perto.


Caudia Leite passou bonitinha e simpatiquinha. Nem parece que a doida acabou de parir.


Banda Eva com Saulo Fernandes passou gostosinho, gente nem de mais, nem de menos, e músicas diferentes daquelas que todo mundo repete incansavelmente.


Carlinhos Brown tem uma energia ótima, e acompanhei o trio com um pouco mais de sossego.


E eis que passa dona Ivete Sangalo. Mal tive tempo de ficar pasmo. O que ela carrega é uma nação embasbacada. As únicas pessoas que não pulavam com ela, eram aquelas que estavam ocupadíssimas tentando bater uma foto ou filmar a lembrança da passagem da moça. É a única em que a voz da cantora sobressaia os instrumentos, até mesmo o bumbo. Voz retumbante, afinada; técnica sem perder a emoção. Quando ela fala, poucos entendem. Bocas abertas de mais para ouvir. Quando ela canta, uma certeza: a terra inclinou 3 graus para a esquerda, e se ela não parar, o globo vai rodar pra fora da via láctea.


Mas quando achei que já tinha visto tudo, eis que passa o tal Psirico. Com o perdão da palavra: PORRA! O Psirico é um grupo mais povão, que toca alguma coisa que nem pude prestar atenção. Era gente de mais e eu estava tentando salvar minha vida. Muita gente ocupando o mesmo espaço e querendo ocupar todos os espaços, de cima a baixo, da esquerda para a direita. O povo se encoxa sem dó, sem medo, sem preconceito; pode ser homem, pode ser mulher, pode ser a parede. Eu mesmo tinha um bundão de um negão na frente rebolando freneticamente, e fiquei morrendo de medo dele virar pra trás e se retar mas, que nada!, a única preocupação é rebolar ao som do Kuduro, ritmo afro meio brega que anda bombando por aqui.


Muita gente feia. Não vou mentir não. Mas eu gosto. Ainda fui parar no lado "gente rica" da festa, e particularmente, aqueles trios com música eletrônica não me atraiu. E nem vi tanta gente bonita, o que vi mesmo foi gente que se acha bonita, e essa é uma grande diferença. Gosto de povão mesmo, gente sem frescura, sôfrega pra ser feliz com qualquer nota. Comi comida de rua mesmo, usei banheiro público fedorento mesmo. Essa decididamente não é uma festa pra gente fresca e com qualquer tipo de frescura e preconceito. Muita sujeira. Entre a passagem de cada trio, quando a rua esvaziava um pouco (e enfatizo o "um pouco"), era uma nostalgia de minha infância fazendo compras no Paraguay. Lixo pra tudo quando é lado, as ruas tomadas por vendedores, caos total.


Vi a passagem de duas tribos bem interessantes: "As Muquiranas" e os "Filhos de Gandhy". O primeiro são homens vestidos de She-ra, carregando pistolas d´agua, que servem para ameaçar as pobres coitadas que não os dão atenção. O pré-requisito pra entrar é ser feio, juro! Nunca vi tanto homem feio junto, e ainda com aquela roupa, peruca e maquiagem... eram uma turba de capetas pra assustar Cão. E são todos oferecidíssimos. Eu tomei algumas esguichadas na cara, e pegaram em todas as minhas partes. Só risadas.


A outra eram os tais "Filhos de Gandhy". Sobre eles, corre um certo ar mitológico. São homens cobertos de branco e azul, e muitos colares, que são presenteados à que os beija. E muitos o querem, diria que quase todos. Realmente, é um grupo de homens em sua maioria bem mais bonitos (e eles sabem disso). Quando um grupo de Gandhy´s passa, o povo para pra olhar e fantasiar. A música do trio que os leva é bem mais ritualistica, mas a essa altura eu já estava um bocado cansado de tanta festa.


Vim pra cá em busca de mais alguns dias à 2, acabei que passo os dias com 2 milhões.


Estou prestes a trocar o dia pela noite, e cada dia que passa como menos e pior.


E ainda tem chão pela frente! Quem mandou se meter com o Carnaval? Quem está na chuva, é pra se molhar!

2 comentários:

Enjoei Glam disse...

Arerê... imagino você neste Carnaval!!

Há quanto tempo não passava por aqui, prometo visitar com mais frequência seu blog, já que visitar vc fica mais difícil!

Espero que nos vejamos no FTC.

Beijo

Saudade

Lu

Anônimo disse...

kkkkkkkkkkkkkkkk Ahhh carnaval!! E amooooooo o carnaval de salvador!! bjocas